Versos Que Não Fiz

domingo, 19 de janeiro de 2014

Imensidão







Nem sei mais
se hoje te escrevo
para que me leias
ou para que traduzas

Se tudo tem só uma origem
se os versos se fundem 
em um só
somos como um espelho
que a si mesmo reflete
o Criador 
que se vê
imerso na criação

Talvez, então,
não haja tradução
não haja interpretação:
sem solução!

Mas eis a graça
da poesia
da vida 
do amor:
não caber 
em uma definição
não limitar-se
a si mesmo,
conter 
a imensidão.






quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Poeta ou Poesia?






Ei, escuta!

não sou eu quem escreve: as palavras que me lêem os versos me traduzem a poesia me compõe.

a caneta toma forma
dos meus dedos
o papel, da minha pele
a tinta me toma o sangue.

a tatuagem em meu dorso
os pássaros voando
o amor pousando
agora já sei:
sozinha se fez!

o que sou não importa
quantas sou já nem sei
quero entender
algum dia
porque assim me tornei

os risos
as lágrimas
os medos

a paixão
o tesão
e a ilusão

os gritos
os cantos
os silêncios

tudo em mim
se formou
me invadiu
sem aviso
sem pedido
sem perdão

tudo o que sou
toda poesia
toda prosa
toda dúvida
toda tristeza
toda alegria
toda leveza

eis-me a divagar
de onde surgi
quem é o poeta
o poema
o verso
a me criar


porque o que escrevo,
na verdade,
escreve em mim...

( ora, ora,
quanta pretensão!)






terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Insensatez






se a saudade 
não existisse, 
eu a inventaria. 
a saudade me contém: 
não vivo sem.

sentimento me domina
tira minha lucidez
se um dia fui capaz
de ofuscar o coração
 isso hoje não tem vez


se sofro
se vibro
se sorrio
ou se lamento
tudo faz parte
tudo sou eu
e minha
inseparável
insensatez

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Sonho que não dorme










na calada da noite, 
o silêncio gritava em seus ouvidos.
 o barulho estrondoso de seus pensamentos
 poderia acordar a cidade inteira.

fechou os olhos
respirou fundo
e lá se foi.
abriu a janela de seu quarto,
assustada.

ninguém nas ruas.
vento soprando
 folhas voando
pegadas apagadas
vultos que já se foram.

brisa em seus cabelos
olhos de anil
queria voltar a sonhar
como um dia o fizera.
sonhos tão felizes
que hoje alguém roubara.

fechou a janela
a lua veio com ela
deitar em seu consolo
acarinhar a solidão
acalmar o coração

calar o pensamento
esquecer o sonho
sentir o vento
voltar a dormir.

a janela fechara.
e a vida seguira.
sim, assim mesmo, 
ela ia.





quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Liberdade







uma dia ainda vou voltar 
a escrever como criança.
com clareza 
e sem reticências...
sem intenções
sem segredos
sem muros 
sem grades
ou cadeados.
com liberdade
e sem busca por chaves
ou lutas desenfreadas
contra os meus eus.
quero ler minhas brincadeiras 
meus jogos
minhas gargalhadas 
desmedidas
sem podas 
sem censuras
sem limites
só com a vontade
de me atirar ao vento
voar 
e um dia, 
quem sabe,
voltar.



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Palavras






escrevo coisas que me servem.
 se cabem em ti, que bom. 
as palavras são do tamanho de quem as lê.

gosto de vestir as letras.
acomodar as palavras.
calçar os poemas.

vou despida de vaidades
munida de sentimentos,
muitas vezes
indecifráveis.

se me servem, ainda,
já nem sei.

o que importa
é a sensação que,
ao roçar meu corpo,
deixaram em minha pele.

as palavras me vestem
e também me despem...



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A poesia silencia





quando o grito sufoca 
e a palavra aperta. 
dentro, aprisionado, o verso.


não se reconhece verso.
desconversa.
sai de mansinho..
e a poesia vai dormir.


sem saber se acordará
sem saber, somente
silencia, somente.


Não procura 
entender
ser compreendida
ter final
ou ponto de partida.