A velha senhora sentou-se diante do espelho
Receosa, levantou o rosto e olhou pr'aqueles olhos
Viu seu rosto, e a imagem sorriu-lhe.
Ficou encantada com o que via:
Aquelas linhas, enraizadas aos olhos, tão suaves, tão suas
Linhas que pareciam poesias
Pois eram marcas de um tempo feliz
De muitas risadas e de vivências únicas
Sua pele alva também mostrava linhas emoldurando a boca
Aquela boca que tanto sorriu
Que tanto falou
Que tanto beijou...
As linhas do tempo lhe eram amigas
Lhe contavam segredos que ela até esquecera de ter vivido
Lembrando-se de alguns capítulos, ela riu.
Em alguns outros, correu-lhe uma lágrima...
O brilho daqueles olhos verdes era o mesmo
Os mesmos olhos...
A diferença era a serenidade
Ainda mais marcante
Seu olhar pacificava a si mesma...
Tinha-lhe um apreço comovente
O espelho lhe dizia o quanto era amada
O quanto aqueles anos todos a fizeram bem
E ela a eles...
Olhou pras suas mãos: frágeis, cheias de histórias
Eram, também, fortes, dentro de sua docilidade.
Os dedos pareciam tocar notas musicais
No piano de cauda
Seu piano lindo , que era a vida.
Os cabelos tingidos, brilhantes,
por dentro eram branquinhos como flocos de neve
De neve e de nuvem
Cabelos de anjo, ela tinha.
E o espelho estava tão feliz por tê-la ali, à sua frente
Por vê-la assim, tão serena e em paz
Feliz por ter vivido intensamente
Por ter se emocionado sempre
Muitas e muitas vezes chorado
Por ter brincado tanto quanto quis
Porque era humana e teve sede de viver
A senhorinha , agora dentro de seu corpo frágil,
Sentia a brisa que vinha pela janela
Tocando sua nuca
Entrando em seus pulmões
Os perfumes que ela recordava
Todos estavam ali, presentes.
Então, pensou:
A vida que oferece perfumes para recordar, é vida feliz...
11 comentários:
"A vida que oferece perfumes para recordar, é vida feliz..."
Marcante isso.
Lendo teu poema e ouvindo no repeat Renato Russo – La Solitudine... ficou mais bonito ainda, sabia?
A nostalgia de coisas passadas, felizes ou não, não deixa de ser uma espécie de solidão e é na solidão que conseguimos escrever coisas lindas assim...
Os olhos são o reflexo da nossa alma e o espelho é a realidade que tantas vezes tentamos disfarçar, como uma forma de driblar a nossa própria vida com ilusões descabidas.
Que bom olhar para o espelho, para as rugas que a vida gerou e sentir felicidade perfumada por isto, por ter vivido intensamente apesar das lágrimas que muitas vezes são inevitáveis...
Te amo.
Du, este é um poema que pra mim foi meio visionário....imaginei-me anos e anos além.... =)
Lindo conto, pelas palavras, maravilhosa poesia!!
Que sua vida possa ser tão feliz e abençoada quanto a que descreveu!
Beijos, querida!
Minha querida, como eu gosto de te ler... Faz bem para minha alma!!
Os olhos. Os mesmo olhos tímidos que recitavam versos. O olhar. O mesmo olhar que se alegrava nas estações!
Beijos
É lindo reinventarmos nosso eu em outras fases, com outros olhos... Com poesia, com imaginação, com amor...
Lindo teu olhar pra dentro, tua poesia... Lindo o diálogo que ela faz com aquele poema da Cecília que eu lembrei... Amo!! "Retrato", depois procura!
Beijo carinhoso, guria! Escreva sempre. ;)
I'm learning all about my life, by looking through your eyes... =)
Beijos, beijos!
O espelho diz muito sobre nós, coisas que nem sempre estamos dispostos a ouvir.
Mas conhecer-se é um caminho para saber que sempre é possível ser feliz.
Flávia, aqui é puro encanto e sentimento. Impossível não gostar!
Estou parando um pouco para ler cada texto. É bom demais!
Beijão!
Flávia
Os seus versos faz a gente sonhar. E nunca querer acordar. Adorei.
Bjuss
Sil
Buscando pela internet uma imagem pude conhecer o seu blog, que por sinal é muito rico e lindo. A partir de agora seguirei/ acompanharei você.
Se quiser conhecer meu trabalho e seguir o meu:
www.prideluz.blogspot.com
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